Os povos indígenas do Brasil
(Terra à vista!)
Pindorama, Pindorama é o Brasil antes de Cabral
Pindorama, Pindorama é tão longe de Potugal
Fica além, muito além do encontro do mar com o céu
Fica além, muito além dos domínios de Dom Manuel
Vera Cruz, Vera Cruz quem achou foi Portugal
Vera Cruz, Vera Cruz atrás do Monte Pascoal
Bem ali Cabral viu dia 22 de abril
Não só viu, descobriu toda a terra do Brasil
Pindorama, Pindorama mas os índios já estavam aqui
Pindorama, Pindorama já falavam tupi-tupi
Só depois, vêm vocês que falavam tupi-português
Só depois com vocês nossa vida mudou de uma vez
Pero Vaz, Pero Vaz disse em uma carta ao rei
Que num altar, sob a cruz rezou missa o nosso frei
Mas depois seu Cabral foi saindo devagar
Do país tropical para as Índias encontrar
Para as índias, para as índias mas as índias já estavam aqui
Avisamos: "olha as índias!" mas Cabral não entende tupi
Se mudou para o mar ver as índias em outro lugar
Deu chabu, deu azar muitas naus não puderam voltar
Mas, enfim, desconfio não foi nada ocasional
Que Cabral, num desvio viu a terra e disse: "Uau!"
Não foi não, foi um fim foi um plano imperial
Pra aportar seu navio num país monumental
A Álvares Cabral, a El Rei Dom Manuel
A índio do Brasil, e ainda quem me ouviu
Vou dizer, descobri, o Brasil tá inteirinho na voz
Quem quiser vai ouvir, Pindorama tá dentro de nós
A Álvares Cabral, a el-rei Dom Manuel
A índio do Brasil, e ainda quem me ouviu
Vou dizer, vem ouvir é um país muito sutil
Quem quiser descobrir, só depois do ano 2000"
A letra da musica Pindorama apresenta um diálogo cantado sobre a fundação de nossa nacionalidade e a formação do povo brasileiro. Pindorama era o nome dado ao Brasil pelos índios Tupi. Os integrantes da conversa criada na canção são os nativos e os brancos portugueses.
Cada um canta sua versão do que é Pindorama, do que é Vera Cruz, do que é o Brasil. Pindorama acontece no canto, se realiza na fala. Os indígenas, quando gritam sua miséria e seu esquecimento, quando mobilizam suas vozes na terra brasileira, estão sendo brasileiros, estão sendo Pindorama.
Os índios de hoje
A respeito dos índios do Brasil, ninguém sabe ao certo quantos são ou quantos já foram. De acordo com o Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há hoje mais de 800 mil índios no país. No passado, por volta de 1500, os cálculos mostram que essa população devia estar entre 3 milhões e 5 milhões de pessoas. Certeza mesmo é que os índios são os mais antigos moradores das terras hoje conhecidas por Brasil.
Os índios nunca formaram um único povo. Hoje, segundo dados do Instituto Socioambiental (ISA), são 238 culturas diferentes espalhadas pelo território brasileiro. Aproximadamente 300 mil índios vivem em cidades e mais de 500 mil em áreas rurais.
Diversidade Cultural
A diversidade cultural que caracteriza os povos indígenas pode ser medida pelos número de línguas faladas por eles: são mais de 180.
A maior parte das linguas indígenas tem duas origens (troncos) comuns: o tupi e o macrojê. Algumas línguas, porém, como a dos Ticuna, não pertencem a nenhum dos dois troncos. Há povos ainda que perderam sua língua de origem e falam o português, como os Pankararu. Por sua vez, a língua portuguesa, oficial no Brasil, incorporou inúmeras palavras de origem tupi.
A cultura dos índios, porém, não se resume à língua falada. Os povos indígenas desenvolveram um conhecimento único da natureza. Eles conhecem propriedades medicinais e cosméticas de raízes, sementes, folhas, frutos, cascas de árvore etc. Além disso, muitos povos dominam técnicas eficientes de plantio e de conservação de alimentos.
A sociedade dos Tupis
Quando os
europeus chegaram ao continente americano, no final do século XV, os Tupi
dividiam-se em Tupinambá, Caeté, Potiguara e outros, totalizando uma população
de aproximadamente 1 milhão de pessoas.
As aldeias
Tupi situavam-se
em lugares com água,
madeira e alimentação farta.
A população
de 500 a
3 mil indivíduos, distribuía-
se em quatro a oito grandes
habitações,
chefiadas por
um líder, chamado
principal,que conquistava essa posição por ser
corajoso e habilidoso na arte da guerra.
Entre os
Tupi não existia um poder centralizado, exercido por alguém responsável por dar
ordens aos outros ou por aproveitar-se de seu trabalho. Reunidos numa espécie
de conselho, os principais
decidiam em conjunto o destino da aldeia. Os
primeiros a serem ouvidos eram os membros mais corajosos, tratados sempre com
muito respeito. As aldeias
ligavam-se entre si por alianças, estabelecidas conforme afinidades e relações de parentescos. Tais alianças variavam com o tempo: os amigos de hoje poderiam
ser os inimigos de amanhã.
A Cultura
A cultura
Tupi baseava-se na guerra e em vários mitos, por exemplo, o da existência de
uma “terra sem males”. Incentivados pelos seus xamãs (líderes religiosos), procuravam
uma terra ideal onde haveria fartura de alimentos, imortalidade e o direito de
se libertar dos inimigos. Na busca desse sonho, os Tupi espalharam-se por todo
o território e ocuparam a faixa litorânea.
A guerra, um
componente cultural básico e constante na vida dos Tupi, servia, sobretudo,
para vingar os parentes mortos pelos inimigos. O maior triunfo resumia-se em
matar e comer o oponente capturado na luta. O prisioneiro, conduzido à aldeia
inimiga,integrava-se à rotina do lugar até ser revogado em um ritual que reunia os membros da aldeia e seus aliados.
Acreditava-se
que os mortos em guerra iam para uma espécie de paraíso, onde estavam os seus
ancestrais. Assim, ser devorado em um ritual antropofágico não era de todo ruim
e poderia representar um destino digno na vida de um índio.
O cotidiano
A guerra e a
caça eram atividades masculinas. Às mulheres, cabia preparar o cauim, bebida fermentada
à base de mandioca, usada nos rituais da aldeia. Elas também cuidavam das
crianças, das plantações e fabricavam as vasilhas de barro utilizadas no
preparo da comida.
Cada homem
podia ter várias esposas, embora fosse comum ter apenas uma. Homens e mulheres
se pintavam e usavam ornamentos. Os homens enfeitavam-se com ornamentos na
cabeça, nos lábios e no pescoço, enquanto as mulheres adornavam apenas as
orelhas. Os Tupi eram
ótimos caçadores e pescadores. Eles cultivavam a mandioca, base de sua
alimentação, com a qual faziam farinha, bolos e beijus.
A sobrevivência dos indígenas
Gravura de Theodore de Bry representando Tupinambá
desmembrando e cozinhando o inimigo, durante um ritual antropofágico, 1562. |
Nos últimos
quinhentos
anos, os povos indígenas foram dizimados
pela escravidão, pelas guerras e pelas doenças trazidas pelos colonizadores. A população sobrevivente perdeu muito da sua cultura tradicional e das suas terras de origem.
A
constituição brasileira garante aos índios as terras tradicionalmente ocupadas
e necessárias à sua sobrevivência e à preservação da sua cultura. No entanto,
quase metade deles ainda não tem, na prática, esse direito.
Os
Territórios Indígenas (TI) encontram-se, em sua maioria, na
Amazônia e sofrem
com a exploração predatória da floresta, empreendida principalmente por
mineradores, madeireiros e fazendeiros.
Atividades
1) Analise a canção Pindorama.
a) Explique o significado dos nomes dados ao Brasil.
b) As estrofes se referem a diferentes momentos históricos? Quais são eles?
2) Estabeleça diferenças entre o homem e a mulher nas sociedades indígenas em relação ao trabalho e aos ornamentos.
3) Explique a importância da guerra para os povos Tupi que habitavam as terras brasileiras quando os portugueses chegaram em 1500.
4) Análise o mapa e responda.
a) Em que região ou regiões do Brasil se concentra a maior parte dos territórios indígenas?
b) Avalie se o trecho a seguir confirma ou não os dados do mapa: Os grupos indígenas permaneceram nas terras em que viviam. A antiga posse do território garantiu aos indígenas a sua propriedade."
5) Que características culturais dos Tupi foram representadas nas imagens presentes no texto?